Prometi a mim mesma não deixar o blog abandonado durante muito tempo. Prometi voltar a Portugal o mais cedo possível. Não cumpri nenhuma dessas promessas, porque sou uma pessoa inconstante. Pelo menos posso dizer que a minha inconsistência nas acções é previsível. Especialmente num momento em que toda eu estou transtornada e, até certo ponto, deprimida. Agora estou melhor, passei imenso tempo com a minha família e com o Charles enquanto lá estive. Deu para sarar e para sentir falta da minha família aqui em Portugal. Já estou cá, cheguei ontem.
Já voltei a mim. Já relembro o meu avô com a alegria de o ter conhecido e não só com a tristeza de o ter visto partir. Com muito cuidado, o Charlie tratou de mim. Senti-me impotente e fraca por saber que para ele, naquele momento, era uma flor delicada. Não estava habituada a ser tratada assim e não me agradou. A minha família, o meu pai, o meu avô, os meus tios e as minhas primas, todos estiveram lá para mim e não podia estar mais grata por tudo.
Agora estou bem, acho eu. Pelo menos estou melhor e agora posso estar do lado da minha avó e ajudá-la. Estive este tempo todo com o telefone constantemente ocupado por ela e ainda bem. Não iria conseguir mostrar-lhe a minha cara, não com todo o sofrimento que me marcava. Não a iria ajudar. Agora posso estar do lado dela e torná-la a mulher forte que ela sempre fora até àquele momento.
A saudade que eu tinha desses braços fortes e quentes. Abraços tão apertados, onde realmente pertenço, o meu lugar neste mundo tão grande e erradio. Aperta-me contra o teu peito, por favor. Deixa-me chorar as tristezas no teu ombro, leva-me para casa. Deixei tudo para trás para voltar a ti, para voltar a nós. Sabes, o nosso futuro nunca tinha estado tão distante como nas últimas semanas, como se todos os nossos planos tivessem sido desenhados em nuvens passageiras que eram levadas pelos sete ventos. Ajuda-me a encontrar aquela pessoa por quem te apaixonaste, quem eu era. Senta-te comigo nesta sala fria e solarenta, afaga o meu cabelo demasiado comprido e diz-me que tudo vai ficar bem. Cura-me as chagas e limpa-me as úlceras da alma com a língua. Conserta este coração que chora sangue até mais não. Despe-me e afunda-me naquela banheira de cerâmica branca, inunda a minha pele de água morna com o sabão que tu usas. É como se me purificasses de todo o pecado que cometi durante alguns minutos. Leva-me para o teu quarto e deita-me nesta cama onde te deitas todas noite, onde gosto de imaginar que sonhas comigo, onde o tempo escreve parte da nossa história. Tranca a porta, desliga as luzes e e não corras as cortinas. Fica do meu lado, abraça-me e deixa a lua entrar e acariciar a tua pele, os teus olhos de chocolate, os teus cabelos de ouro. Sorri para mim enquanto me tocas, aviva a chama do meu olhar. Quero adormecer no teu peito e sentir o som do teu coração, acalmar a tempestade e afugentar os demónios que vivem nos meus sonhos.
A mudança que tanto ansiava está aqui. São momentos de perda, de um vazio tremendo, que me fazem ter a certeza do que é que quero e do que me faz feliz. As coisas que preciso para voltar a ser eu mesma. Vai custar caro, mas se não o fizer vou dar em doida. Desde que o meu avô passou para o outro lado não penso noutra coisa e certamente não aguento mais estar aqui.
É um passo deveras egoísta que estou prestes a dar, a minha avó precisa de mim, a minha mãe e a irmã dela, os meus primos, precisam de todo o apoio emocional possível, mas eu preciso da minha sanidade de volta. Falei com a minha mãe, comprei um bilhete só de ida para Manhattan e paguei os custos extra pedidos (com o dinheiro da minha conta; nunca iria pedir à minha mãe que investisse nesta loucura, peço apenas que me dê o seu apoio), já estou a fazer as malas e amanhã vou despedir-me de toda a gente. Vou deixar o Dobby com a minha mãe.
Mãe, sei que não queres que eu vá e que, depois de muitos argumentos válidos da tua parte, me estás a largar com muita relutância, mas agradeço. Estou grata por me deixares ir. Estou grata por me libertares.
Vou sair daqui, largar tudo e finalmente viver. Amanhã.